A professora e o seu divã
Caro visitante, apresento-lhe meu divã. Explico-me: sou professora da educação básica e trago na memória, e no coração, algumas histórias vivenciadas em sala de aula, as quais imprimem ao meu ser uma feliz inquietação. Assim, encontrei na escrita uma experiência de catarse, tal qual um divã. A proposta é apresentar, periodicamente, uma crônica extraída do meu portfólio, o qual foi - e ainda é - construído no exercício de uma docência que pretende ser decente. ( Rosana Souza )
quarta-feira, 14 de outubro de 2020
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
Uma lição linguística abordada em O menino que descobriu o vento
Em O menino que descobriu o vento, William não só descobriu que o vento pode cooperar para reverter situações adversas, ele também aprendeu que pode(mos) voar através dos sonhos.Chamou a minha atenção a cena em que o professor Kachigunda tentava convencer a irmã do protagonista a fugir com ele para outra região ( Mangochi), ao que ela retrucou:” eu não sei falar ajaua” . Ele, por sua vez, sugeriu: “você pode falar inglês!”
Este diálogo me permitiu constatar: “ eu posso não saber um outro idioma, mas, se eu sei inglês, eu sei todos!”
domingo, 6 de setembro de 2020
Dia do Estudante 2020
Querido estudante,
Aceno para você, neste momento, por ser hoje o seu dia e por acreditar que você é razão e alvo de uma construção social a que se denomina educação! Não aquela educação agenciada em discursos e cuja semântica não ultrapassa a linha da simples escolarização. Falo da educação coadjuvante do processo de formação e despertamento da identidade. Por isso, quero evocar duas adolescentes que, para mim, são modelos de estudantes revolucionárias: ANNE FRANK e MALALA YOUSAFZAI. Assim como você, que foi impedido de ir à escola — mas, não de estudar — por conta de uma batalha no âmbito da saúde pública, a da covid-19, ambas enfrentaram guerras. Isto sem contar com as lutas íntimas que todo adolescente trava!
Anne viveu a 2ª Guerra Mundial, Malala comprou uma ao confrontar o fundamentalismo do Talibã em seu país. Em um esconderijo, Anne mantinha uma disciplinada rotina de estudos, mesmo temendo a iminente prisão e morte pela perseguição Nazista. O seu diário tornou-se um legado à humanidade! Malala, por sua vez, infringiu uma das normas impostas pelo talibã: meninas não devem frequentar escola. Isto quase lhe custou a vida. Isto foi também o ponto de partida para uma história que mereceu o Nobel da paz em 2014. Duas adolescentes; duas guerras; uma escolha: a educação como direito imediato.Cumpre lembrar, meu caro estudante, que a pandemia atual evidencia uma guerra multidimensional, entretanto você dispõe de armas de potencial gigantesco, um sem-número de possibilidades: os livros, as videoaulas, os filmes, as séries, os documentários — um menu infinito de informações para você selecionar, criteriosamente,
para a construção do seu maior patrimônio: o seu conhecimento! Sirva-se!
Ao finalizar, quero receitar-lhe uma dose de versos de Quintana:
“A vida é nova...
A vida é nova e anda nua
- vestida apenas com o teu desejo!”
Feliz vida de estudante!
Um afago na sua alma!
See you soon!❤️
Teacher Rosana Souza
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Amainando conflitos
Conflitos são lugares-comum no cotidiano da escola, são inerentes à sua dinâmica. Logo, ser educador é também ser pacificador; por vezes advogado,ou mesmo juiz. Na minha jornada, coleciono experiências de finais felizes ante a pequenos conflitos. Pensei até em criar um manual cujo título seria “Receitas infalíveis de mediar conflitos em sala de aula”.
Apartando briga: Ao sair de uma sala , deparei-me com dois alunos que se atracavam, trocando tapas e murros. Pedi, em voz alta, que parassem. Nada. Nervosa, ordenei que parassem. Nenhum sucesso. “Ah, então vocês estão gostando de se agarrar?!”, foi a minha cartada final. Pareceu mágico o efeito das minhas palavras. Os beligerantes interromperam imediatamente o combate.
Adequando o vocabulário: Na moral é uma gíria encontrada no vocabulário de muitos adolescentes com os quais trabalho; sua significação deve ser próxima à “numa boa”; trata-se da roupagem teen de “por favor”.Numa dada situação de confronto em que um aluno importunava sua colega, dirigi-me a ele:–Na moral, Fernando, pare de perturbar sua colega!Ele a deixou em paz e justificou:– Aê, prof, só vou obedecer porque a senhora usou as palavras certas.
Guardando segredo: A professora de Geografia passava pelo corredor que dava acesso a sala onde teria sua próxima aula. Sandro a seguia, imitando-a em seu andar. Ao perceber que eu o flagrava, imediatamente veio ao meu encontro, já dizendo:
–Ô, pró, PELOAMORDEDEUS, não conta nada pra ela.
–Meu Deus, mais uma bomba para eu desativar – pensei rapidamente.
De súbito, respondi:
–Está bem, está bem, mas vê se não apronta mais!Mais tarde, ao realizar a chamada nominal em sua classe, Sandro olhou para mim e, sorrindo, disse:–Eu e a pró temos um segredo, né, pró?
Além dessas, há inúmeras experiências sobre as quais ainda tenho dúvidas se agi conforme a ética da minha profissão. Só estou certa mesmo é de que muitas delas são hilariantes e inesquecíveis.Na verdade, até o presente momento, ignoro onde está o limite entre o pedagógico/didático/ético e o feedback imediato que as relações vivenciadas na escola requerem de nós, mediadores do conhecimento. Apenas julgo que, para nos manter na luta, em nome da paz na escola – e na vida – as poucas armas de que dispomos são o diálogo, a afetividade, os acordos de convivência e — muitas vezes — a criatividade.
Rosana Souza
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Won'o, o flagra!
Proposição: A pesca emburrece, induz ao erro mais facilmente, subestima e aplaca a autonomia do sujeito no seu processo de construção da aprendizagem.
Vivenciar uma semana de provas é, talvez, uma das experiências mais desgastantes do cotidiano escolar. Parece que nós, professores, nos submetemos a uma brincadeira de 'gato e rato' ou mesmo de Sherlock Holmes, a fim de garantir o êxito do processo. A cola — ou pesca, como é conhecida em minha região — é uma ameaça iminente para o professor. Para alguns estudantes, uma prática frequente e, até, um ato salvador!
Keep calm, o estresse ainda não acabou! E quando chega o dia de apresentar o resultado das avaliações? Aí é outra história! Percebo que ganhei antipatizantes, uma vez que sempre procurei usar um padrão de equidade, no tocante a aferição da aprendizagem da minha matéria! Lembro-me de uma frase que dizia " Professor e aluno são amigos para sempre até que a nota os separa".
Em minha carreira ( ou seria correria?), já experimentei de um-quase-tudo e, quando parecia que já tinha vivido toda a minha cota de surpresas, neste ano, algo surreal aconteceu! Vamos aos fatos.
Ao corrigir a atividade de uma turma de ensino médio, observei a recorrência de um erro curioso: onde deveria aparecer won't ( contração de will + not), um estranho won'o prevalecia nas respostas apresentadas. Acionei meu detector de pescas. Não demorou para que eu delineasse o percurso do won'o . Lembrei imediatamente de uma aluna considerada " fera" em Inglês cuja grafia tem formas bem arredondadas. Daí, conjecturei: ao escrever won't, o traçado do seu 't' deu a impressão de ser 'o'; por isso, o primeiro a colar, escreveu won'o. Confirmei esta tese quando verifiquei a resposta original da referida aluna. Ponto pra mim!
Situação semelhante foi observada na turma A, quando notei que um grupo de 7 ou 8 alunos erraram as mesmas questões em um teste de múltipla escolha. Teria sido coincidência, caso o best student não tivesse os mesmos erros.
É, caro leitor, ser educador é estar sujeito a coisas desse tipo. Mas, sabe de uma coisa? Aprendo e autoavalio-me constantemente, e, claro, divirto-me muito com tudo isso!
Professora Rosana Souza
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Desenho de Rick Crianças são seres encantadores! Minha mente é povoada por cenas e imagens marcantes de crianças – reais e fictícias...
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Que ano o de 2001! Até o seu segundo bimestre, classificava-o como o pior em toda a minha vida profissional. Bem que me acautelara...