sábado, 6 de julho de 2013

O ano em que quase abandonei o magistério




Que ano o de 2001! Até o seu segundo bimestre, classificava-o como o  pior em toda a minha vida profissional. Bem que me acautelaram: magistério não é profissão, é sacerdócio! E mais: o nome não é professor, mas sofressor!

Sabe aquela sensação de que tudo parece conspirar contra você? Foi essa a que se instaurou em mim naquele ano.

As classes em que lecionava me deixavam sem esperança. Era um 6º ano barulhento, um 7º ano  indisciplinado, diversas turmas de ensino médio indiferentes a toda e qualquer intervenção pedagógica. Rara era a recíproca nos cumprimentos diários: bom dia, boa tarde. Geralmente, a resposta vinha em forma de silêncio ou balbúrdia.

O desgosto era extensivo. Transitava até por entre as tarefas e provas que tinha de levar para casa.

Recordo o dia em que montei uma atividade lúdica para uma das turmas. Uma vez que a escola estava sem papel, arquei com o ônus a fim de romper com o ciclo do desinteresse da classe. Após a atividade, um dos alunos rasgou o papel diante dos colegas, expressando insatisfação com a tarefa proposta. Ao saber que o custo do papel fora meu, retrucou: “amanhã eu trago o seu papel”.

Confesso que a certa altura, eu queria deixar tudo: uma década de magistério, a reputação profissional, a empatia com os alunos. A palavra educação e todas as outras que pertenciam ao seu campo semântico me causavam repulsa. Comecei a procurar concursos para outras carreiras. Estava desiludida com a escola.

Não foram raras as vezes em que chorei o meu fado. Senti vergonha de ser professora.

Alguns dos alunos notaram  minha desdita. Respondia que não era nada.

Entretanto, foi na primavera daquele ano que pude observar que a contrapartida era realidade. Depois de receber uma carta de Jumary, volvi meu olhar aos bilhetinhos com versos que recebia desde o início do ano. Passei a me alimentar das inúmeras declarações de amor devoto que recebia no percurso da escola. Deixei que as palavras de Juliane, uma aluna assaz carismática, ressoassem mais forte ao meu ouvido: Professora, como eu te amo; Como está linda hoje; Estava com saudade, minha pró.

Como fui tola em deixar que a algazarra do ambiente escolar camuflasse o carinho que muitos conseguiam demonstrar! Quanto fui indiferente à devoção de Luna, que me abarrotava de frases de admiração irrestrita. Quão censurável fui ao reclamar da insensibilidade de alguns, se grande era a número de alunos concorrendo entre si para me saudar com um beijo, um abraço, um sorriso. Antes de me dirigir à sala do 6º ano, alguns alunos amontoavam-se diante de mim para carregar meus livros, o estojo, o squeeze e, muitas vezes, para não haver zanga, até mesmo minha bolsa entrava na distribuição. Em um desses momentos de concorrência para carregar meu material, ouvi uma aluna do 7º ano dizer: Esses meninos do 6º ano só faltam carregar a roupa da professora!

Corações desenhados no ar e beijos eram lançados para mim.

Assim, resolvi ficar. Aprendi que era uma questão de redirecionamento do olhar.
 
 
                                                                                               Professora Rosana Souza

 

4 comentários:

  1. É muito bom sua experiência, para mim, estou no início de carreira apesar de estar envolvida em sala de aula desde 2005, mas estou começando mesmo agora, já passei por situações que me desanimaram muito, mas faço o que você fez e certamente ainda faz, redirecionei o meu olhar para o lado positivo de cada turma e busco fazer o meu melhor, mas ainda me cobro, pois os alunos deste século, desta era de smartphones, wi-fi etc a atenção deles é voltada para seus aparelhos e outras coisas e muitas vezes não nos respeitam nem são motivados á assistir as aulas, tenho que inovar sempre e muitas vezes nem assim funciona, mas acredito que ainda que só uma minoria interaja, respeite e preste atenção, uma semente boa planamos e continuarei perseverante porque entendo também que exerço na escola um sacerdócio que exige muito de mim, sofro mas tenho recompensas inigualáveis! Parabéns á nós, teachers!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Somos ,então, companheiras de ofício! De um tempo para cá, entendi que fui designada para semear nete solo(escola) árido. E, como nos diz Max Lucado: Nunca despreze o poder de uma semente! Beijos, Jacy, sucesso em sua caminhada!

      Excluir
  2. A Paz de Cristo,

    Parabéns pelo texto enriquecedor e ao mesmo tempo encorajador.
    Amei seu cantinho!

    PARA VOCÊ COM AMOR FRATERNAL!
    O AMOR DE DEUS POR NÓS...

    Deus ama cada um como filho único é o amor de Deus que da sentido em continuar seguindo o caminho mesmo que a tempestade caia sem cessar e que a dor seja maior que as forças que temos para sofrer mesmo que a escuridão nos envolva e tente os ventos da injustiça apagar a pequena chama da fé mas no obscuro túnel da vida a luz do amor de Deus brilha sem cessar o amor de Deus transforma a tragédia em triunfo a maldição em benção o mal em bem o amor de Deus é o único e verdadeiro Caminho, somente o amor de Deus produz frutos aonde nunca se plantou! o amor de Deus é paciente...
    tudo espera...
    tudo suporta...
    e jamais se acabará,
    porque é eterno!!!
    Acredite que apesar da distância, pertencemos ao mesmo corpo, onde Cristo é a Cabeça. Fico extremamente grata ao nosso Deus que nos proporciona esta ferramente que é a Internet, precisamente essa interação entre blogueiros, que unidos num só propósito (EVANGELIZAR) divulgam o Amor e a Salvação em Cristo Jesus.

    Ficaria lisonjeada se fizesse parte com sua preciosa presença do quadro de seguidores. Está faltando você no FRUTO DO ESPÍRITO.

    A propósito, caso ainda não esteja seguindo o meu blog deixo aqui o convite:
    Fruto do Espírito

    Minha Fan Page

    P.S. Convido a conhecer o blog do irmão J.C.de Araújo Jorge.
    Mensagens atuais, algumas polêmicas, porém muito edificantes...
    Acesse e confira:
    Discípulo de Cristo

    Em Cristo,
    ***Lucy***

    ResponderExcluir

Feliz Dia do Semeador de sonhos!